sexta-feira, 30 de julho de 2010

Sua chance de ficar milhardário com o ouro do Lamarca


Parece impossível, mas existe um mapa do tesouro a disposição de quem quiser encontrar uma jazida aurífera perdida no Vale do Ribeira.
O documento é igualzinho àqueles pergaminhos que os piratas faziam quando, diante de um aperreio qualquer, tinham que se mandar deixando enterrada suas fortunas. 
Àqueles que estão achando que isso é uma grande brincadeira, aviso logo: NÃO É, NÃO!
E explico como tal relíquia chegou às minhas mãos:
Na década de setenta, o então ex-sargento José Araújo da Nóbrega vagava pelo Vale do Ribeira com Carlos Lamarca mais um grupo de seis outros militantes da Vanguarda Popular Revolucionária.
No encalço dos guerrilheiros vinham dois mil homens do Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícia Federal, Civil e Militar, numa verdadeira ação de guerra batizada de Operação Registro.
Durante as infindáveis caminhadas pela mata, num determinado ponto da Serra, Nóbrega encontrou uma pedra arredondada, de cor amarela, que guardou na mochila.
Dias depois, na entrada da Cidade de Sete Barras, o ex-sargento perde a mochila durante uma escaramuça noturna com homens do Exército e da Polícia Militar. (Todos estes episódios você lê na integra no livro Pedro e os Lobos - veja as 157 1ªs páginas acessando o link que está na lateral esquerda do blog)
Ao ser preso dois dias depois, o guerrilheiro é interrogado sob tortura. E o que os milicos mais querem saber é, exatamente, o local onde ele tinha apanhando a pedra amarela que estava em sua mochila.
Pelo interesse que eles demonstraram, deduzi que já tinham mandado avaliar e pedra e descoberto seu valor.", conta Nóbrega.
Mesmo apanhando muito, o prisioneiro não abre a região onde encontrara a pepita. Recolhido ao Presídio Tiradentes, meses depois, ele será banido do Brasil por conta do seqüestro do embaixador alemão.
Quando vem a anistia, o ex-guerrilheiro volta ao Brasil e, na companhia de Pedro Lobo, procura fazer incursões ao Vale do Ribeira atrás do local exato onde poderia estar o veio de ouro. Mas, naquela época, a região ainda está bastante inóspita e a dupla sempre volta de mãos vazias.
         Então, a jazida ainda está lá, intacta, só esperando a chagada de um sortudo.
Como hoje a região está muito mais desbravada e acessível, tem novas estradas e caminhos, fica bem mais fácil se vasculhar a Serra.
E para quem quiser se aventurar, Pedro dá a dica:  
— O Zé Nóbrega me disse que a pedra era do tamanho duma bola de bilhar. E ele até descreveu o barranco de onde arrancou a pedra, que ficava perto duma cachoeira na Serra do Cavalo Queimado, às margens do rio Pilão, afluente, à esquerda, do Ribeira de Iguape. 
Se andas meio durango e está interessado em se tornar um milionário da noite pro dia, o mapa detalhado da região onde se esconde a jazida aurífera pode ser a solução para todos os seus problemas. E ele está completinho na página 596 do livro Pedro e os Lobos.
Basta investir R$ 50,00 na compra da minha obra pelo site www.pedroeoslobos.com - provavelmente o único livro de História no mundo que oferece um autêntico mapa do tesouro a seus leitores - e sair atrás da fortuna enterrada na Serra.
Não é uma ótima chance pra você parar de dizer que é um azarado e que um autêntico mapa do tesouro nunca caiu-lhe nas mãos?
Boa sorte! 

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O governo Lula e o PIB





"É preciso crescer o bolo da economia primeiro, para dividi-lo depois com a população."

          A máxima de Delfim Netto lançada no inicio da década de 70, durante o Milagre Brasileiro, mostra bem a postura dos governos que se sucederam no comando do Brasil até a chegada do Lula ao poder.
Por este raciocínio, como só o empresariado teria condições de gerar empregos em grande escala, nada mais justo que dar a banqueiros, industriais e grandes empreiteiros todo o capital disponível. 
E o povão que espere na miséria o crescimento do bolo.
Como nunca teve qualquer preocupação com o povaréu faminto, o que nosso empresariado fez foi desviar para o mercado especulativo boa parte do capital recebido a juros subsidiados.
E deu no que deu:
Rapidamente, o Brasil mergulhou numa crise econômica crônica que atravessou décadas. Por fim, o povaréu acabou pagando a conta da ganância das elite sem ter visto uma única migalha do tão prometido quitute econômico. 
            Aí vem o Lula e diz:
            - O que precisamos é dar de comer aos miseráveis.
            E saí distribuindo renda, com aumento real do salário mínimo, as bolsas-famílias e congêneres.
            Quando a tiazinha aposentada lá dos cafundós do Piauí recebe esse dinheirinho a mais, ela não vai pensar em aplicá-la no mercado especulativos em busca do lucro fácil. Ela corre é comprar leite pro netinho que cria, e que antes só comia farinha.
            Aí, o dono da venda, que há décadas sobrevive dos caraminguás duma economia estagnada, vai sentir suas vendas aumentarem veritignosamente. Afinal, são centenas e centenas de velhinhas comprando leite todo dia.
            Em pouco tempo nosso vendeiro, o dono das cabras, o transportador de leite, o dono da revenda de ração, todos terão que aumentar a produção e contratar novos funcionários. E o lucro que sobra será investido na compra dum carrinho mais novo, da reforma da casa, na compra dum aparelho de TV.
            Imaginem esse processo acontecendo em milhares e milhares de municípios. Tá aí o segredo do crescimento vertiginoso do nosso Produto Interno Bruto nos últimos anos, mesmo estando o mundo mergulhado numa profunda crise financeira.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A ameaça que vem das Alagoas





          Segundo o Estadão de ontem, o ex-presidente Fernando Collor de Mello lidera as pesquisas para o governo de Alagoas com vistoso 38% de intenções de votos. 
          Aí eu me pergunto: o que leva um cidadão a declarar seu voto no primeiro presidente a ser escorraçado do Palácio do Planalto por levar para dentro do governo uma quadrilha inteira?  
          Será que esses alagoanos não têm idéia da biografia do homem que querem ver governador?
          Pôxa! Basta ler um único livro, o Notícias do Planalto - A Imprensa e Fernando Collor, do jornalista Mário Sérgio Conte. Ali está um retrato demolidor de Fernando e seu sócio, Paulo César Farias, o lendário PC, assassinado em circunstâncias estranhíssimas no interior de sua mansão em junho de 96.
          No livro tem de tudo, consumo de cocaína, homossexualismo, corrupção, chantagem, suborno, intriga entre irmãos, traição, assassinato. 
          A oposição em Alagoas deveria fazer uma revistinha em quadrinhos com o resumo desta obra - que tem 700 páginas - e distribuir a população. 
          Não podemos correr o risco de ver uma nova escalada política de Collor. De repente, ele começa a caçar marajás em seu estado e acaba presidente da República.
          Em 18 Brumário, Karl Marx diz que a história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Já que Fernando Collor cumpriu as duas possibilidades logo no primeiro governo, a repetição da história aqui levaria o Brasil para o abismo final.  
            Ô povão de Alagoas, vamos repensar o voto aí, gente!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Os meninos do Brasil

      Sou Santista desde pequerrucho, viúva do Pelé com muito orgulho. E fiquei radiante com a convocação da molecada do Santos pelo Mano Meneses.
      
       Agora teremos um time digno do futebol-arte que tanto marcou a trajetória do Brasil em copas do mundo. Dublês de Pelé e reencarnações de Garrincha são sempre bem vindos na seleção.
      
       Mas a escalação dos Meninos da Vila aconteceu tarde demais e é algo assim como colocar a tranca na porta depois d’ela ter sido arrombada. O vexame na África do Sul se deu, em grande parte, por conta do idiota do Dunga ter dado as costas ao potencial dos jovens talentos do Santos.


        Desfeita a injustiça, agora é torcer pra que Neymar, Ganso & Cia continuem a jogar futebol com a maestria que vinham mostrando no Santos antes da Copa.


        Boa sorte aos nossos meninos na seleção. O Brasil vai precisar do talento destes garotos pra ser campeão em 2014. Afinal, não podemos repetir o fiasco de 50, quando perdemos a Copa na final pro Uruguai em pleno Maracanã.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Derly José de Carvalho

       Derly é um personagem da história recente do nosso país que merece ser referenciado. Militante do Partido Comunista do Brasil nos anos 60, ele foi um dos fundadores da Ala Vermelha do PC do B, organização que enfrentou a bala os militares durante os Anos de Chumbo.
       Ao lado dos quatro irmãos - Devanir, Daniel, Joel e Jairo - Derly invadiu bancos atrás de numerário para a revolução e tomou rádios no intuito de fazer a propaganda da luta.
       Dos cinco José de Carvalho, só Derly e Jairo sobreviveram a fúria dos militares. Devanir foi torturado até a morte pelo delegado Sérgio Fleury e sua equipe. Daniel e Joel sumiram nas mãos da repressão.
       Hoje, Derly é um pacato cidadão de Diadema, no ABC paulista, que se dedica ao cinema e a fotografia, além de fazer trabalho de formação política e social com crianças da periferia.
       Outro dia, num papo gostoso em sua casa, o ex-militante da esquerda armada me contou um episódio curioso:
       Na década de 90, Derly chega à Favela Naval para um trabalho junto às crianças da comunidade.
       Mas, diante do desinteresse dos meninos por aquele tiozão boa praça que queria ensinar-lhes fotografia e noções de cidadania, o ex-guerrilheiro quer saber:
      - Quem é a pessoa que vocês mais admiram?
      - Fernandinho Beira-Mar, responderam, de pronto, os moleques.
Por quê?
      - Porque ele é corajoso, enfrenta a polícia com fuzis AR-15 e comanda o pessoal lá nas favelas do Rio.
      - Então, me façam um favor: vão a uma lan hause e digitem meu nome lá no computador. Depois a gente conversa.
       Na internet, os meninos puxam a ficha daquele senhor de aparência tranquila e têm uma surpresa. Nos sites da extrema-direita está lá:
       Derly José de Carvalho e seus quatro irmão eram conhecidos como os Irmãos Metralha pela violência com que atuaram na luta contra o governo. Foram responsáveis por inúmeros assaltos à bancos além de invasões de rádios e explosão de bombas.
      No dia seguinte, Derly chega à favela e a atenção dos meninos em sua aula é total.
      Afinal, com tantos episódios de bravura e determinação no currículo, ele só poderia se tornar o novo herói da molecada.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Primeira semana

        Uma semana de blog
        25 seguidores.
        70 acessos diários, em média.
        Quem diria! 
        Já posso considerar a empreitada um sucesso. 
        E essa chance de pulverizar opiniões e informação pela rede virtual em pequena escala - como os blogs - ou em grande escala, como os portais de informação, é fantástica. 
        Tá aí futuro dos meios de comunicação chegando. Tanto que esta semana o Jornal do Brasil, o mais tradicional vespertino carioca - deixou de ser impresso depois de cento e dezenove anos.
        Outros grandes jornais - como a Folha de S. Paulo e o Estadão - também caminham meio que por aí, já que suas vendas em banca seguem despencando vertiginosamente. 
         E, não dá pra competir mesmo com a informação on-line, porque para imprimir um jornalão desses se gasta toneladas de papel - o que significa milhares de árvores derrubadas - e baldes e mais baldes de tinta, matéria prima impregnada de chumbo, um metal pesado altamente prejudicial à saúde e à natureza. 
         Depois vem a gasolina ou o diesel queimados no transporte e a pilha imensa de jornais velhos que fica para ser reciclada. Fora a grana que você gasta com a compra do exemplar ou a assinatura.
         No processo de difusão de informação via internet, nada disso é preciso. Basta os cliques do editor e os cliques do leitor.
         Muito mais rápido, prático e econômico, tanto para o bolso como para o meio-ambiente.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Apuro na estrada


Hoje, abro espaço para contar uma passagem das mais insólitas na vida de Damaris Lucena, a mulher mais arretada que conheci.
Essa nordestina, que até hoje, aos oitenta e tantos anos, traz no discurso a força dos Lucena, passou poucas e boas na vida por conta de sua militância, da do marido e do filho mais velho na luta armada que enfrentou a ditadura.
Casada com Raymundo Lucena - o Doutor da Vanguarda Popular Revolucionária - ela viu o marido ser morto na frente dos filhos menores pela polícia de Atibaia. Seu primogênito, Ariston, foi um dos pouquíssimos brasileiros a serem condenados à pena de morte, isto aos dezoito anos de idade.
Banida do país por conta do sequestro dum embaixador, Damaris teve de amargar anos e anos de exílio em Cuba.

Mas, vamos ao caso:

Corre o ano de 1968 e Damaris trafega pela rodovia Fernão Dias numa Rural Willys. Ela e Ariston, de dezessete anos, levam pra Atibaia parte do arsenal da organização guerrilheira de Carlos Lamarca. No porta-malas estão fuzis Fals, granadas, pistolas, metralhadoras e outros petrechos de guerra.
Num trecho da rodovia, a perua cisma de enguiçar.
Do meio da noite surge então uma viatura policial e os guardas se apressam em abordar a mulher parada no acostamento.
- Olá! A senhora está com algum problema?
- O diacho desse carro empacou. Não quer andar mais.
- Mas é muito perigoso a senhora e o garoto ficarem aqui na estrada a essa hora. Esta região tá infestada de terroristas. Vamos passar um rádio agora mesmo prum mecânico vir ajudá-la.
Enquanto esperam o socorro, os policiais apanham na viatura um maço de cartazes e entregam a Damaris:
- Se puder nos ajudar, espalhe estes cartazes lá no bairro onde mora. Aí estão as fotografias dos terroristas mais perigoso do país.
Já prevendo o que vai encontrar, Damaris apanha os papéis e passa o olho:
- De cara, a primeira foto era do Raymundo, meu marido.
Usando de muito sangue frio, a matriarca dos Lucena repassa os cartazes ao filho procurando dourar a pílula de sua farsa:
- Ariston, olhe bem a cara destes sujeitos. São todos bandidos. Se você cruzar com algum deles por aí, não titubeie, ligue imediatamente pra polícia.
Contentes por ganharem mais dois colaboradores na luta contra a esquerda armada, os policiais ficam ali fazendo segurança involuntária ao arsenal da VPR até a chegada do mecânico.
Quando o homem começa a levantar o carro com seu macaco, ele pergunta:
        - O que a senhora carrega aí dentro pra esta perua estar tão pesada?
Engolindo em seco, a mulher responde de pronto.
- São sacos de mantimento, meu filho! Como nós somos pobres, compramos arroz e feijão no atacado lá em São Paulo, que sai mais em conta.
- Ah, ta!
 Terminado o conserto, a viatura ainda escolta mãe e filho até a entrada do bairro onde moram. Sem saber, os policiais chegaram muito perto dum dos aparelhos clandestinos da organização chefiada por Carlos Lamarca.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O PT e as Farc, estaca fincada na areia

Surgida em 1964 a partir de um movimento camponês de resistência, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia tem cerca de dez mil combatentes e ocupa uma área que beira os 20% do território do país.
A ligação da organização com o narcotráfico é alardeada pelos Norte-americanos e seus parceiros capitalistas, Canadá e União Européia. O refino e a venda da droga seria uma forma das Farc sobreviverem economicamente.
As acusações de José Serra e seu vice de que o Partido dos Trabalhadores mantém ligações com os revolucionários do país vizinho está fazendo fervilhar a campanha eleitoral.
Porém, a acusação é oca e sem qualquer utilidade ao eleitor.
Oca porque tal ligação jamais foi assumida oficialmente pelo Partido. Então, até prova em contrário, juramentada em cartório, ela não existe.
E, se existe, é um direito, já que como entidade política surgida dentro das esquerdas, a legenda traz identidades históricas com o socialismo e os movimentos armados de esquerda que pulularam e ainda pululam pelo mundo. A própria Dilma pertenceu ao Comando de Libertação Nacional – Colina - e depois à Vanguarda Armada Revolucionária – Var-P.
Agora, que sentido prático estas denúncias trazem ao eleitor?
Nenhum!
Já que o que está em jogo nestas eleições é a conveniência ou não de manter-se o Partido dos Trabalhadores no comando do Brasil. Os amiguismos internacionais que o PT manteve, mantém ou manterá, não somam nada nesta avaliação.
Se continuar fincando estacas na areia, o candidato tucano corre o risco de acabar em terceiro lugar nas urnas, e ainda bem atrás da Marina Silva.
Tomara!

terça-feira, 20 de julho de 2010

A falta que o Maluf e o Enéas fazem.

Vão começar os debates dos presidenciáveis. Vai começar o programa eleitoral na TV e nas rádios...
E ficará faltando duas figuras folclóricas das eleições no Brasil: Paulo Maluf e Enéas Carneiro.
Não que eles façam falta pela suas posições ideológicas. 
Paulo Salim Maluf, engenheiro de formação, foi lacaio dos milicos durante a ditadura, ganhou deles a Prefeitura de São Paulo e depois o governo do Estado. Roubou até dizer chega e acabou gerando um verbo nefasto: malufar.
Das dez eleições majoritárias que disputou - 4 para a prefeitura de Sampa, 4 para governador do Estado e duas para presidente, perdeu nove.
E na unica que ganhou - para prefeito em 1992 -  fez seu sucessor, o também hediondo Celso Pitta. 
O "Meu nome é Enéas!" era cardiologista, careca e barbudo, de postura excêntrica e se sobressaía mais como palhaço. Conseguiu mais de quatro milhões e meio de votos por falar muito e de forma rebuscada nos 17 segundos que dispunha na TV.
Por isso, ele acabou virando voto de protesto. Mas seu discurso era reacionário, como a ojeriza ao casamento gay, a tese da bomba atômica brasileira e a nacionalização do subsolo brasileiro. Deixou-nos aqui em São Paulo uma herança, a abominável Havani Nimitz
Sempre odiei estes dois senhores como personagens da política e fiquei aliviado com o ostracismo em que caiu um e a viagem pro inferno que fez o outro.
Mas que vai ficar faltando humor nessa campanha, isso vai.
Com a sisuda Dilma, o ranzinza Serra e a vestal Marina, não teremos os momentos hilários do passado, os bate-bocas, as acusações virulentas e a cara de pau de Salim Maluf em dizer-se honesto e acusar todos os opositores de ladrões.
Vai faltar também o palavrório atropelado do franco atirador Enéas, metralhando farpas em todas as direções, e seus pitacos sarcásticos nos debates.
Claro que o Brasil ganha muito com uma disputa restrita a candidatos de centro-esquerda ou de esquerda.
Mas que a direita, na pele de Maluf e Enéas, dava um delicioso tom anárquico às campanhas, isso dava.
Né, não?

domingo, 18 de julho de 2010

Um absurdo nas relações sociais durante a escravidão.

Digo eu Isidoro Gurgel Mascarenhas, que entre os mais bens que possuo [...] sou senhor e possuidor de uma escrava de nome Ana [...] [recebida na herança] de meu Pai, Lúcio Gurgel Mascarenhas [...] e como a referida escrava é minha Mãe, verificando-se a minha maioridade hoje, pelo casamento de ontem, por isso achando–me com direito, concedo à referida minha Mãe plena liberdade a qual concedo de todo o meu coração”

No 2º volume da coletânea História da Vida Privada no Brasil, Robert W. Slenes usa o documento acima para mostrar um dos absurdos gerados pela relação senhor/escravo no Império.

E só em 1869, ao se tornar maior de idade, o filho bastardo do proprietário de terras tem a possibilidade de se livrar da condição de dono da própria mãe.
Temos aqui uma “família” que durante 19 anos foi formada por Lúcio (senhor de escravos em Campinas) Isidoro e Ana que, apesar de ser mãe do rapaz, é mantida na condição de mera mercadoria do estoque dos Gurgel Mascarenhas.  
E, como tal, pode ser vendida ou alugada a qualquer momento por seus senhores.

A luz do nosso tempo fica difícil imaginar a angústia dum filho que espera por quase vinte anos a chance de libertar a mãe da condição de sua escrava.

E a força da grana representada pela posse de cativos é tamanha que, mesmo sendo uma das vitimas desta nefasta  estrutura, Lúcio continuará mantendo seu vistoso plantel de escravos. 

Quando da sua morte, em 1861, ele ainda terá  23 deles.   

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Perdeu a graça

Desde que me politizei, no final dos anos 90, as eleições foram uma festa.
E sempre torci pro PT –   que ajudei a fundar –   apoiei candidatos, acompanhei a propaganda na TV, os debates, me envolvi em infindáv eis discussões de botequins etc.
Nos bons tempos da boca de urna, então, o dia da votação era especial.
Crachá de fiscal pendurado no pescoço, lá ia eu pras escolas distribuir santinhos, coordenar os boqueiros e fiscalizar os locais de votação.
Quando o voto ainda era de papel, o trabalho de acompanhamento da apuração só acabava na madrugada do dia seguinte com abertura a última urna no Clube Atlético Juventus.
A chegada do PT ao poder, os mensalões, as coligações à direita, a profissionalização dos quadros e o fim da boca de urna tiraram a graça das eleições. Quase deixo o partido no auge da crise do mensalão e, embora ainda vote na legenda, abandonei de vez a militância apaixonada.  
Este ano, até vou votar em outro partido para deputado Federal: no ex-guerrilheiro e meu amigo Darcy Rodrigues, do PDT.
Uma pena.
Meu deputado estadual aqui em Sampa é o Adriano Diogo, do PT, número 13.444, um cara corretíssimo e com um senso de ética política invejável.
Ficam aí as dicas.
Um bom dia a todos.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Até parece que foi ontem...

Putz!
Até parece que foi ontem que criei este blog...
E já tenho uma multidão de leitores. Contei bem uma dúzia de carinhas ou silhuetas me olhando ali do espaço destinado aos caros perseguidores.
Valeu, companheirada!
E tamanha audiência me obriga a uma alteração drástica na minha rotina matinal.
Depois de acordar e dar bom dia pro gato Policarpo, de alimentar meus peixinhos dourados, a prioridade agora será sentar no micro pra dar conta do recado.
Assunto não falta, mas como observei ontem, escrever não é sopa.
E hoje vou me ater a uma coisa absurda que li numa plaquinha grudada no muro dum Motel da av. Anhaia Mello, aqui na Zona Leste:
SRs. PICHADORES 
PEDIMOS NÃO PICHAREM NOSSOS MUROS POIS DOAMOS MENSALMENTE UMA QUANTIA EM DINHEIRO A UMA INSTITUIÇÃO DE CARIDADE.
OS RECIBOS ENCONTRAM-SE NA PORTARIA PARA CONFERÊNCIA.
É o cúmulo da idiotice.
A começar pela deferência – Senhores Pichadores – com que os caras tratam a maloqueirada que costuma emporcalhar a cidade com seus rabiscos.
Tirando a linguagem inadequada, que deveria começar com
E AÍ, MEUS TRUTA!
Tem a proposta do dono do motel que beira a insanidade.
Já imaginaram cinco ou seis moleques – todos com as mãos e roupas sujas de tinta e munidos de tubos de spray – entrando no motel no meio da madrugada e se dirigindo ao gerente:
- E aí, sangue bom! Nóis é os mano qui picha aqui na área e tamo a fins de dá um look nos recibo pra vê se tá tudo em cima.
Imediatamente o funcionário tira da gaveta um maço de recibos e os entrega aos "mano" que examinam tudo com cuidado e ainda lançam nos papelotes suas rubricas.
Só um dono de motel pra imaginar tal cena.

Sei que o tema foge um pouco da minha nobre proposta – discutir neste espaço História, política, cinema, fotografia... – mas eu precisava registrar o absurdo.
E tá registrado.
Muito bom dia a todos.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Escrever não é sopa, mas vale a pena!

Escrever exige idéias novas, paciência com a ortografia que nos atormenta e, principalmente, leitores dispostos a aturar nossos devaneios.

E eu estou saindo de uma aventura pelo universo da escrita – o livro Pedro e os Lobos - que me custou sete anos de labuta. Foram mais de oitenta meses pesquisando, entrevistando e enfileirando palavras que encheram 640 páginas duma merecida homenagem a Pedro Lobo de Oliveira.

Escrever é sacerdócio, é sacrifício, mas muito recompensante quando recebemos elogios de pessoas que mal conhecíamos. Vejam um trecho do longo e-mail que a Soninha Gomes me mandou.

(...) Cara, você não vai acreditar, mas não consegui interromper a leitura, acabei lendo o livro de um fôlego só, parando só prá comer, trabalhar, dormir, essas coisas...O livro me prendeu de tal forma que eu não conseguia interromper a leitura.

(...) Confesso que fiquei imensamente emocionada em diversas passagens, mas o que me fez chorar mesmo, assim de soluçar, foi o momento da chegada de Pedro ao Brasil, voltando do exílio na Alemanha Oriental...(...)

Só por isso, ter conseguido prender a atenção de um leitor ao longo da obra e ainda emocioná-lo a ponto de arrancar soluços, já paga as incontáveis idas e vindas a São José dos Campos, as 24 entrevistas, todas as viagens - a Porto Alegre, Brasília, BH, Rio, Campinas etc – e a grana investida no projeto.

Saber que alguém se emocionou com o texto recompensa ainda as centenas de manhãs, tardes e madrugadas que varei amontoando idéias, lapidando parágrafos, consultando livros e teses pra checar dados de ações armadas, de fatos históricos ou sobre os mortos e desaparecidos.

Portanto, como jornalista e historiador, fica aqui, nesta primeira postagem, diante das palavras da Soninha, a sensação do dever cumprido. 


E um muito obrigado a todos aqueles que compraram o livro.