terça-feira, 31 de agosto de 2010

Um filme genial


             Cine Paradiso - Nuovo Cinema Paradiso, no original em italiano - de Giuseppe Tornatore, foi lançado nos idos de 1988, mas é um filme pra se rever sempre. Me meti a besta de fazê-lo na semana retrasada. E tome lágrimas do começo ao fim.
         A sutileza com que o diretor constrói seus dois personagens principais, o projetista Alfredo - Philippe Noiret e o coroinha Totó - Salvatore Cascio - é duma genialidade a toda prova. A gente mergulha na história e na relação de amizade dos dois de tal forma, que as emoções deles viram as nossas emoções.
         Junto com o drama do menino apaixonado por cinema que faz de tudo pra assistir as seções e ajudar na projeção das películas, o diretor mostra o cotidiano de uma cidadezinha do sul da Itália nos anos quarenta. 
         Impagável a censura prévia do padre aos beijos contidos nas fitas norte-americanas e o comportamento da platéia durante as seções de cinema.
         Ganhador, entre outros, do Oscar e do Globo de Ouro de 1990, como melhor filme estrangeiro, e do Grande Prêmio do Juri do Festival de Canes, em 1989, Cine Paradiso vai estar sempre na relação dos filmes da minha vida.
            Se ainda não viu, pegue o filme numa locadora  e confira. Você vai se emocionar com toda a certeza.  

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Uma virada em São Paulo.



         A subida de Dilma Rousseff em São Paulo - onde já ultrapassa José Serra nas pesquisas - pode gerar uma virada na disputa para o governo estadual, embora Aluísio Mercadante ainda perca feio pra Geraldo Alckmin. 
         São Paulo sempre foi um estado conservador, já que é o mais rico da federação, mas o efeito Dilma deve, nestes trinta e poucos dias que faltam para o fim da campanha, reforçar o nome do senador na populosa periferia das grandes cidades onde o PT é bastante forte.
          Pelo que parece, está havendo uma grande mobilização - do Partido dos Trabalhadores, do presidente Lula e da prórpria Dilma - no sentido de criar um arrastão político para tentar tirar dos tucanos o poder que ocupam há quase vinte anos. 
          E os efeitos dessa concentração de forças já se faz sentir. Tanto que, na última pesquisa Mercadante subiu quatro pontos enquanto o ex-governador ficou parado.
          Mas ainda existe um mecanismo poderoso de propaganda desativado nesse processo. Na blogosfera, enquanto fervilham os blogs de apoio a Dilma, os de apoio a candidatura do senador minguam. E não devemos esquecer que foi a internet que ajudou a eleger Obama nos Estados Unidos.
           Alertado por mim na semana passada, Chico Macena - o coordenador da campanha do senador - prometeu corrigir isso. Eu ainda não vi nenhum resultado na rede, mas ainda dá tempo de recrutar a militância pra encher a web de blogs pró Mercadante.
           Seria fantástico ver os tucanos fora do estado mais importante, em termos econômicos e de população, do país.
      

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Privacidade

        

           Desde o primeiro ano da faculdade de jornalismo já me imaginava trabalhando na mídia impressa, longe de qualquer câmera ou microfone. Isso porque, muito embora seja um cara até comunicativo, sempre me apavorou a idéia de, algum dia, vir a ser reconhecido na rua pelas pessoas.
           Considero a privacidade um item fundamental para a felicidade. 
            Há seis anos, numa carreata de dez horas em cima da carroçaria dum caminhão, diante de um fã mais impertinente, o senador e atual candidato a governador por São Paulo, Aloísio Mercadante me segredou:
             - Você só dá valor a privacidade quando a perde. Eu, por exemplo, só tenho paz quando estou na minha chácara de Brasília. De resto, onde estiver serei abordado por gente que nunca vi, mas que age como se fosse da minha intimidade. E tenho sempre que ser simpático, abraçar o cara, a mulher dele, dar beijinho nos filhos, e ainda fazer pose para a tradicional foto. Se não fizer isso, vão me taxar de chato, mal humorado, arrogante.
             E pensar que existe um turbilhão de atrizes e modelos que não podem ver uma câmera de TV e já correm atrás com um sorriso armado na boca. Esse povo ainda liga pros paparazzi de plantão toda vez que sai de casa pra jantar, ir no cabeleireiro ou visitar um shopping.
             É muito masoquismo, ou será uma imensurável necessidade de auto-afirmação?  

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Considerações a respeito de uma imagem



       Esta é uma escola municipal de Alter do Chão, no Pará, e foi tirada faz cinco anos.
       Tal fragilidade remete a uma história verídica passada nos anos setenta em Rondônia e que mostra como o ensino sempre foi tratado com descaso no Brasil.
       Hernani Nobre, um meu amigo, se formou em Pedagogia na USP aqui de São Paulo e foi viver em Porto Velho pensando fazer um trabalho social por lá. Acabou engajado na assessoria do secretário de Educação do Estado e resolveu visitar a periferia da capital para conhecer mais de perto a rotina e os problemas dos professores.
        Ao chegar em uma escola, viu os alunos tendo aula no interior da escola e, pra não atrapalhar, foi ter com o homem que capinava o jardim:
        - Muito bom dia. O senhor poderia me dizer que horas acaba a aula?
        - Daqui meia hora.
        - Tudo bem! Vou esperar porque sou da Secretaria da Educação e preciso falar com o professor. 
         - Mais o sinhô não percisa perdê esse tempão todo, não. Qui si é pra falá c'o professô, pode falá cumigo mermo.
         - Ué. Mas o senhor não é o jardineiro?
         - Não. Eu sô o professô. Fui nomeado pelo perfeito, que é meu tio, sabe cumé, que fica cuma parte do meu salário lá pra ele.
         - Ora, se o senhor é o mestre por aqui, quem está dando aula?  
         - É o jardinero. Qui eu num sei lê nem escrevê direito. E ele sabe fazê as letra todinha. Intão, ele insina a molecada, inquanto eu fiquei  tirano os mato do quintar.
          Quando o Heranni me contou isso, passei a entender melhor o porquê de vivemos num país de analfabetos. 

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Uma lona para cobrir o Congresso


       Perseguidores!

       Desculpem a insistência, mas tenho que voltar à candidatura Tiririca.

       Em entrevista publicada na Folha.com de ontem esse camarada ultrapassa todos os limites do tolerável dentro do jogo político e suas respostas formam 
uma obra prima do absurdo. 

       Confesso que, acompanhando eleições a mais de trinta anos, nunca ter visto tamanha cara-de-pau. E, aqui pra nós, esse sujeito deveria ser linchado da vida política, não ter mais que dois votos, o dele e o da mãe, se é que a velha terá coragem de votar na anta de seu rebento.

       Pra começar o candidato diz que nunca votou: "Sempre justifiquei meu voto".

       Ignorante confesso, Tiririca também assume não ter a menor idéia da linha ideológica ou das propostas de seu partido, o inexpressivo PR. Ele não sabe seuqer o que faz um deputado. Enfim, um analfabeto político que pretende ir ao Congresso "resolver as coisas".

        A plataforma do Palhaço Tiririca é a mais banal, genérica e batida possível: "defender os nordestinos, as crianças e os necessitados".

        E, pasmem, seu grande consultor político é a própria mãe.

        Num completo desafio da lógica, em certo trecho da entrevista ele confirma o slogan do "pior do que está não pode ficar". Mas, na resposta seguinte diz que o Lula melhorou o país pra caramba. Oras, se melhorou é porque estava pior. Logo pode piorar, sim, se voltar - com a ajuda dele, obviamente - a ficar como era.

       Como já escrevi no outro post, o povo vota em quem lhe é espelho e vai acabar elegendo um palhaço profissional pra acabar de transformar o Congresso num grande circo. Depois, esse próprio povo pega no microfone para, em entrevistas relâmpagos nos telejornais ou num desses programas de humor tipo CQC ou Pânico, reclamar da seriedade dos políticos. 

        Pode?

Confira abaixo a entrevista na íntegra. 
Os grifos são meus.

Folha.com  24.8.2010

'Não é piada, é a realidade', diz Tiririca sobre slogan de campanha


Francisco Everaldo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca, 45, provoca risos e indignação desde que a campanha eleitoral começou na TV.

Com o slogan "Vote Tiririca, pior que tá, não fica", ele vai às urnas para tentar uma vaga como deputado federal pelo Estado de São Paulo. É a grande aposta do PR no pleito, tanto que ganhou a legenda de mais fácil memorização: 2222.

Folha - Por que você decidiu se candidatar?
Tiririca - Eu recebi o convite há um ano. Conversei com minha mãe, ela me aconselhou a entrar porque daria pra ajudar as pessoas mais necessitadas. Eu tô entrando de cabeça.

De quem veio o convite?
Do PR.

Como foi?
Por eu ser um cara popular, eles acreditaram muito, como eu também acredito, que tá certo, eu vou ser eleito.

Sabe o que o PR propõe, como se situa na política?
Cara, com sinceridade, ainda não me liguei nisso aí, não. O meu foco é nessa coisa da candidatura, e de correr atrás. E caso vindo a ser eleito, aí a gente vai ver.

Quais são as suas principais propostas?
Como eu sou cara que vem de baixo, e graças a Deus consegui espaço, eu tô trabalhando pelos nordestinos, pelas crianças e pelos desfavorecidos.

Mas tem algum projeto concreto que você queira levar para a Câmara?
De cabeça, assim, não dá pra falar. Mas como tem uma equipe trabalhando por trás, a gente tem os projetos que tão elaborados, tá tudo beleza. Eu quero ajudar muito o lance dos nordestinos.

O que você poderia fazer pelos nordestinos?
Acabar com a discriminação, que é muito grande. Eu sei que o lance da constituição civil, lei trabalhista... A gente tem uma porrada de coisa que... de cabeça assim é complicado pra te falar. Mas tá tudo no papel, e tá beleza. Tenho certeza de que vai dar certo.

Quem financia a sua campanha?
Então... o partido entrou com essa ajuda aí... e eu achei legal.

Você tem ideia de quanto custa a campanha?
Cara, não tá sendo barata.

Mas você não tem ideia?
Não tenho ideia, não.

Na propaganda eleitoral você diz que não sabe o que faz um deputado. É verdade ou é piada?
Como é o Tiririca, é uma piada, né, cara? 'Também não sei, mas vote em mim que eu vou dizer'. Tipo assim. Eu fiz mais na piada, mais no coisa... porque é esse lance mesmo do Tiririca.

Mas o Francisco sabe o que faz um deputado?
Com certeza, bicho. Entrei nessa, estudei para esse lance, conversei muito com a minha mãe. Eu sei que elabora as leis e faz vários projetos acontecer, né?

O que você conhece sobre a atividade de deputado?
Pra te falar a verdade, não conheço nada. Mas tando lá vou passar a conhecer.

Até agora você não sabe nada sobre a Câmara?
Não, nada.

Quem são os seus assessores?
Nós estamos com, com, com.... a Daniele.... Daniela. Ela faz parte da assessoria, junto com.... Maionese, né? Carla... É uma equipe grande pra caramba.
Mas quem te assessora na parte legislativa?
É pessoal do Manieri.

Quem é o Manieri?
É... A, a, a.... a Dani é que pode te explicar direitinho. Ela que trabalha com ele. Pode te explicar o que é.

Por que seu slogan é 'pior que tá, não fica?
Eu acho que pior que tá, não vai ficar. Não tem condições. Vamos ver se, com os artistas entrando, vai dar uma mudança. Se Deus quiser, pra melhor.

Esse slogan é um deboche, uma piada?
Não. É a realidade. Pior do que tá não fica.

Você pretende se vestir de Tiririca na Câmara?
Não, de maneira alguma.

Quem é o seu espelho na política?
Pra te falar a verdade, não tenho. Respeito muito o Lula pelo que ele fez pelo nosso país. Ele pegou o país arrasado e melhorou pra caramba.

Fora ele...
Quem ele indicar, eu acredito muito. Vai continuar o trabalho que ele deixou aí.

Então você vota na Dilma.
Com certeza. A gente vai apoiar a Dilma. Ele tá apoiando e a gente vai nessa.

Não teme ser tratado com deboche?
Não, cara. Não temo nada disso. Tô entrando de cabeça, de coração. Tô querendo fazer alguma coisa. Mesmo porque eu sou bem resolvido na minha profissão. Tenho um contrato de quatro anos com a Record. Tenho minha vida feita, graças a Deus. Tem gente que não aceita, mas a rejeição é muito pouca.

Se for eleito, vai continuar na TV?
Com certeza, é o meu trabalho. Vou conciliar os dois empregos.

Em quem votou para deputado na última eleição?
Pra te falar a verdade, eu nunca votei. Sempre justifiquei meu voto.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Democracia Direta Já


         Na Grécia Antiga o cidadão ia pra rua defender seus projetos e votar os projetos dos outros. Essa democracia, a do braço levantado em praça pública, se chamava Direta.
         Com o aumento das populações e a sofisticação dos regimes democráticos o sujeito passou a escolher um outro sujeito para representá lo. Essa democracia, a do representante apertando botões nos plenários da vida, tem o nome de Indireta.
         Agora, que a internet já frequenta a maioria dos lares brasileiros, está até nos celulares, e caminha para chegar aos aparelhos de TV, será que não é hora de voltarmos a democracia direta? 
         E assim, ao invés de escolhermos mulheres peras, maguilas ou tiriricas pra serem nossos representantes no Congresso, nas assembléias e nas câmaras municipais, receberíamos as propostas alheias e enviaríamos as nossas pelo computador. Depois de tudo analisado e discutido em fóruns virtuais, aprovaríamos ou rejeitaríamos os projetos com um clique do mouse.
         Seria o fim dos oportunistas, dos ladrões contumazes e dos traidores do povo.
         Está aí uma bandeira legal de ser levantada: 

DEMOCRACIA DIRETA JÁ!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mestre Laurentino

Laurentino Gomes em foto de Eduardo Anizelli/Folhapress


          Excelente a palestra do jornalista e escritor Laurentino Gomes no último dia da Bienal do Livro, ontem à tarde.
          O cara lançou, em 2007, 1808 falando sobre a vinda da família real ao Brasil e vendeu mais de 600 mil exemplares. Agora, ele volta com 1822 - a ser lançado em 7 de setembro próximo - e está preparando 1889. "Aí, prometo nunca mais lançar livro com data no título." brincou ele.
           Já li 1808 e achei a obra muito interessante. Mas o fundamental é que ela ajuda a quebrar um paradigma: o de que o brasileiro não lê, ou se lê, só lê Paulo Coelho e autoajuda. A prova disso é que, pela primeira vez um livro - e ainda de História do Brasil - vendeu mais que qualquer disco lançado no mesmo período.
           Outra grande contribuição de Laurentino - e aí está, talvez, o segredo do seu sucesso - é que ele usa da linguagem jornalística pra contar os fatos ocorridos durante o Império. "Ninguém precisa sofrer pra aprender História", argumenta o autor. 
           Como fui pelo mesmo caminho em Pedro e os Lobos, tomara que também tenha acertado a mão e meu livro decole.
           A propósito, Laurentino é uma pessoa bastante simpática, atenciosa com o público e não carrega qualquer traço da arrogância típica daqueles que atingem os píncaros do estrelato literário. Tanto que o presenteei com um exemplar de Pedro e os Lobos e ele exigiu um autógrafo. Confesso que fui às nuvens ao me ver escrevendo a dedicatória pro homem.
  

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Seguram o moleque, tudo bem, mas...

 



      Caramba!
      Quanto vale o trabalho dum médico, que salva vidas?
      Quanto vale o trabalho dum professor, que educa toda uma nação?
      Quanto vale o trabalho dum engenheiro, que constrói casas pro povomorar, apartamentos, as pontes e estradas do progresso?
      E o dum moleque que sabe jogar bola?
      Acho que todas as discrepâncias do capitalismo afloram quando um menino de 18 anos ganha R$ 500 mil por mês para praticar esporte.
      Sou santista e torci pro Neymar ficar no Santos. Ele é craque. Mas dai ganhar uma montanha de dinheiro dessas num país que está apenas saindo do subdesenvolvimento, é cruel. E ele ainda declarou que "só o dinheiro não traz a felicidade", como se R$ 500 mil por mês fosse pouco.
      Mas onde estará a culpa?
      Na imprensa que endeusa os jogadores a ponto de transformá-los em mitos vivos?
      No torcedor que lota estádio e compra camisetas e as bugiganga que seus ídolos vendem?
      Nos empresários que inflacionam os contratos?
      No sistema que propicia um médico, um professor, um engenheiro ganhar infinitamente menos que um atleta adolescente?
      Ou será que há um conjunto de fatores?
      O concreto é que milhões de outros meninos colocarão a escola em segundo plano pra tentar virar neymares e 99% deles serão barrados nas peneiras da vida.
      Triste, não? 

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Talentos no ostracismo

Antônio Pereira no programa do Boldrin


          Está em São Paulo para mais alguns shows Antônio Pereira, um músico e compositor de primeira linha, só que desconhecido do grande púbico por conta do desinteresse da mídia. 
          Vivendo em Manáus, Pereira tem uma voz fantástica e músicas surpreendentes. Mas não encontra espaço nas rádios ou TVs. No máximo, consegue se apresentar em programas como o do Rolando Boldrim, na TV Cultura aqui de São Paulo.
          Como ele, existem centenas de novos e bons talentos que são completamente desconhecidos do grande público graças a blindagem que as grandes gravadoras, com seus jabás milionários, criam em torno da mídia. 
           É uma pena porque, desinformado, o povão se contenta em consumir os rebolations da vida. E aos músicos e compositores mais talentosos sobra o ostracismo dos shows em barezinhos onde conseguem vender de mesa em mesa, assim meio que esmolando, seus CDs. 
           Seria preciso a criação, pelo Ministério da Cultura, duma espécie de cota oficial para que as rádios e TVs  fossem obrigadas a incluir em sua programação - temas de novela, shows, programas tipo Faustão - essa gente desconhecida. Afinal, diz a lei que as emissoras tem por finalidade difundir a cultura do país e, no fundo, o que elas fazem, em termos de música, é emburrecer o público.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A banalização da fotografia.



         Sempre adorei fotografia. Na década de oitenta cheguei a escrever por alguns anos na página dedicada ao tema e que fechava o caderno Folha Informática da Bolha de São Paulo.
         Ali cobria o assunto como jornalista, fazendo entrevistas, mostrando o mercado - se consumia milhões e milhões de filmes por ano no Brasil - dando dicas de profissionais, uma vez que jamais passei de mero fotógrafo amador.
         E fotografar era um ato custoso, que envolvia ter um bom equipamento, manusear fotômetro, calcular abertura de diafragma etc. Além disso precisava saber escolher o filme e ter grana pra bancar a revelação.  
         Mas havia todo um encanto quando, depois desse complicado e demorado processo, se obtinha o resultado do trabalho.
         Hoje, confesso que estou assustado com a banalização da imagem provocada pela enxurrada de câmeras digitais e celulares de alta definição que vão surgindo. 
         Mergulhados num mar de imagens instantâneas, não prestamos mais atenção numa bela foto quando conseguimos uma, ou sequer nos preocupamos em imprimir ou fazer um beck up das imagens obtidas. E elas vão desaparecer pra sempre quando o equipamento for roubado, perdido ou sofrer um pane.
         Sou fascinado por novas tecnologias, mas acho que a fotografia enquanto arte ou registro do nosso cotidiano perdeu muito com essa banalização. O pior é saber que o processo é irreversível.        

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Idiotice pura

Dilma em Nova Iorque no início de 2010.  

         Tem chovido e-mails com ataques virulentos ao passado de Dilma Rousseff na minha caixa de mensagens. Na maioria deles, a candidata aparece como uma perigosa guerrilheira que matou gente, assaltou bancos, sequestrou embaixadores e participou do roubo à casa de Anna Gimel Benchimol Capriglione, a amante de Adhemar de Barros, no Rio de Janeiro.
         Em vários destes e-mails, há uma pergunta idiota: Se a Dilma, assim como o Gabeira, não pode entrar nos Estados Unidos por conta do sequestro de Charles Elbrick, quem irá representar o Brasil quando o nosso presidente for convocado a discursar na ONU?
          Em primeiro lugar a candidata nunca participou de sequestros, muito menos do embaixador ianque. A ação foi feita pelo pessoal da Dissidência Comunista da Guanabara - que assumiu o nome Movimento Revolucionário 8 de Outubro durante o episódio - mais a turma da Ação Libertadora Nacional. E a Dilma pertencia, na época, ao Comando de Libertação Nacional - o Colina - de Belo Horizonte.
        Segundo, durante sua militância Dilma jamais pegou em armas. É só ler Pedro e os Lobos pra ver que o nome dela não aparece em nenhuma das ações violentas acontecidas no período.
        E, mesmo se tivesse pego, ela teria livre acesso à sede da ONU, uma vez que lá é um território internacional e até Fidel Castro e Che Guevara - dois notórios arqui-inimigos dos EUA - já discursaram por lá. 
        Tanto a candidata pode ir aos Estados Unidos livremente que, no início do ano a Bolha de S. Paulo a entrevistou em Nova Iorque como prova a imagem que abre esta postagem.
        O que conforta é saber que tanta baboseira espalhada pela Net não abala a candidatura do PT, e o Data Bolha já aponta a Dilma apenas a dois pontos de levar  presidência no primeiro turno, considerado os votos válidos.
         É o bom senso do povaréu se impondo às mentiras da direita ressentida.  

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Nova versão



          É sempre complicado comparar duas versões da mesma obra. Se a primeira for um romance e a segunda um filme baseado nele, então, em 90% dos casos o filme perde feio.
          Mas é impossível, para quem tem mais de cinquenta anos como eu, não fazer comparações quando assiste ao O Bem Amado, que começou como peça de teatro do genial Dias Gomes, virou novela, minisérie e agora está nos cinemas.
          Claro que o filme não é peça nem novela e tem que ter vida própria, identidade, como película. Mas que dá uma saudade do Odorico Paraguaçu interpretado pelo Paulo Gracindo, isto dá. Não que o Marcos Nanini não seja um excelente ator, mas ficou gravado na memória da gente aquele Odorico com gestos largos e sorriso messiânico que não existe no prefeito do Nanini.
           O Zeca Diabo, me perdoe o Zé Wilker, também ficou melhor na interpretação do Lima Duarte, aliás, que teve ali o seu primeiro trabalho de peso na TV. Este dava ao personagem uma certa comicidade que Wilker preferiu desprezar. O Zeca do filme é muito taciturno pruma comédia.
          Até mesmo as irmãs Cajazeira ficaram caricatas demais na versão de Guel Arraes.
          Agora, um abismo se abre na comparação entre o Dirceu Borboleta - com seus óculos fundo de garrafa e sua gagueira crônica - vivido por Emiliano Queiroz e o Dirceu interpretado por Matheus Nachtergale. Apesar de ótimo ator cômico, Matheus não conseguiu dar ao seu personagem traços que o destacassem. O Dirceu atual não faz rir, é mofino demais, sem brilho para a grandeza do papel dele na trama.
          Para quem não assistiu a novela, todas estas comparações devem soar ridículas. Mas, para quem assistiu e traz, como eu, seus personagens na memória, o filme deixa muito a desejar.  
      

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Máfia dos livros



        Há uma máfia por trás da distribuição e vendas de livros no Brasil.
        Consegui bancar Pedro e os Lobos sozinho e agora enfrento total dificuldade pra colocá-lo nas livrarias porque, simplesmente, ninguém quer distribuir o livro.
        Estive ontem na Bienal e conversei com algumas distribuidoras. E a resposta é sempre desalentadora.
        O sujeito sequer te convida pra sentar ou pede pra ver o jeitão da obra. Ainda em pé, ele diz que o negócio não interessa:
        - Já temos problemas em lidar com o catálogo das grandes editoras, imagine se formos acolher também os livros das pequenas. Não dá!
        E a conversa morre aí.
        Sem ter uma distribuidora, o livro não chega às cerca de 1500 livrarias espalhada pelo país.
        Com as grandes redes de livrarias o negócio pode ser direto, sem o distribuidor, mas a lenga-lenga é a mesma:
        - Não temos espaço pra expor o livro nas lojas!
        Então, quando muito sua obra vira mais um dos milhares de itens do catálogo digital dum Submarino da vida.
        Outra crueldade contra o pequeno editor é o preço de venda.
        As livrarias querem a metade do valor de capa e ponto. Não há negociação, choro ou vela.
        Todo mundo só pensa no filé. E que se dane quem está começando.
        Diante desta sinuca de bico, só resta ao autor desconhecido desisitir da produção independente e jogar sua obra nas mãos duma grande editora. Aí, todo o lucro vai pra ela enquanto o escritor terá que se contentar com uma mixaria – em média 5% - de direito autoral.
        Talvez esteja aí um dos motivos pelo qual o brasileiro lê pouco e escreve menos ainda.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Punição aos culpados.


        A punição aos militares latinoamericanos que cometeram atrocidades contra civis durante os anos 60/70 continua em pauta no continente. Tanto que o documentário Mi Vida com Carlos, do cineasta chileno Germán Berger, emocionou a platéia do Festival de Gramado no começo da semana.
        
        O filme retrata, a partir da ótica de um filho – este o próprio diretor - a desventura do advogado e militante de esquerda, Carlos Berger, assassinado em outubro de 1973 pelas Caravanas da Morte, operação dos homens de Augusto Pinochet encarregada de eliminar, pura e simplesmente, simpatizantes do presidente deposto Salvador Allende.
         
         Ida Lobo e vários dos personagens que desfilam por Pedro e os Lobos estavam no Chile nesta época e vivenciaram a ação destas Caravanas. Quem ler o livro vai acompanhar a barra da mulher de Pedro vagando pelas ruas infetadas de milicos com o filho de 5 anos levando nas mãos um embrulho  onde está um revólver 38 que precisa ser desovado de qualquer jeito.
         Depois tem a história do José Nóbrega retirado a noite do Estádio Nacional para ser fuzilado numa estrada deserta. Hoje, com setenta e tantos anos, o companheiro de Carlos Lamarca na Vanguarda Popular Revolucionária ainda traz no corpo os estragos causados pelas balas dos militares chilenos .
         Só com a punição severa daqueles que, em nome dum Estado autoritário, cometeram crime de guerra durante as sanguinolentas ditaduras implantadas a ferro e a fogo no Brasil, Chile, Argentina, Uruguai ou em qualquer outro país do continente, poderemos virar esta página da história.
         Neste sentido, durante um debate ocorrido na terça-feira em Gramado, a advogada Carmem Hertz, mãe de Gérman, declarou a imprensa: 
        Ao contrário do que diziam os agourentos, que era preciso virar a página, esquecer e perdoar, estes processos permitiram construir instituições melhores no Chile. Hoje temos um exército depurado dos piores expoentes das antigas políticas de extermínio. Se tivéssemos concedido apenas perdão e esquecimento, teríamos uma sociedade menos democrática e mais injusta.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Selesantos encantadora.

Neymar, Pato e Ganso
Neymar, Gnso e Pato em foto da AFP


        O placar até que foi modesto perto do domínio da seleção brasileira no jogo de ontem contra os ianques.
        Com o time da granja em campo - Ganso, Pato & Cia - o Brasil envolveu os norte-americanos que não conseguiram jogar bola. No segundo tempo fizeram apenas um ou dois míseros ataques. 
        E foram muitas as possibilidades de gol geradas por jogadas geniais de Ganso, Neymar, Pato e Robinho. Duas bolas, inclusive, bateram na trave.
        Méritos também ao Mano que soube escalar um time ofensivo.
        É esse o futebol que a gente esperava ver na copa e que a anta do Dunga nos negou. Negou em nome dum grupelho capenga minado pela idade e a falta de preparo físico dos jogadores. Vide o Cacá, que jogou todos os jogos contundido.
        Se assim de saída já deu pra encantar, imaginem este time entrosadinho. Vai ser delicioso torcer pela molecada em 2014.
        Arriba Brasil !!!!!!!!!!!!!!!!!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Os "donos" da História


       Durante a construção do livro Pedro e os Lobos, me deparei com a existência de alguns "donos" da História.
       Exercendo um violento patrulhamento em nome da verdade revolucionária, um destes ex-militantes da luta armada chegou a me proibir, aos berros, de publicar o capítulo onde, em 1972, Pedro é convidado por um guerrilheiro brasileiro exilado no Chile a trabalhar para a máfia.
       O argumento comum a estes patrulheiros é o de que:
       - Éramos todos heróis e você está maculando a reputação de um dos nossos.
       Mas o Pedro me contou o episódio, argumentei. Ele aconteceu e o próprio irmão do cara me autorizou a divulgá-lo, inclusive citando o nome do rapaz que fez o convite.
       - Você está louco! Não vê que a direita está só esperando uma deixa dessa pra destruir a reputação da gente.
       Primeiro, a direita já se dedica, 24 horas por dia, a detonar a imagem daqueles que pegaram em armas durante a ditadura. Vide sites como o Ternuma e seus congêneres.
       Eu mesmo fui considerado ingênuo pelos milicos de pijama. No site Vasculhando o Orvil eles dizem que Pedro me convenceu que os lobos do título eram os militares, mas que, na verdade, o lobo era ele, que roubou, atentou e matou em nome do comunismo internacional.
       O patrulhamento de alguns destes ex-combatentes chegou ao absurdo de eles me pediram pra retirar do texto vários termos que consideram ofensivos à causa.
       - Roubo não pode! Tem que falar expropriação. Sequestro também não, é pejorativo. 
       O interessante é que no manifesto escrito pelos próprios guerrilheiros durante o confinamento de Charles Elbrick, em 1969, e, por exigência deles, divulgado em todas as TVs e rádios do país, diz:
       Ele (o sequestro) se soma aos inúmeros atos revolucionários já levados a cabo: assaltos a bancos (...). Na verdade, o rapto do embaixador é apenas mais um ato (...)
        Agora, quarenta e tantos anos depois, esse pessoal quer tirar da História episódios reais e sublimar termos que a esquerda cansou de usar em seus manifestos.
        É querer ser mais realista que o rei, né não?

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Minha Revolta Não se Vende



        Semana passada estive em São José dos Campos com Pedro Lobo e ganhamos, do escritor Moacyr Pinto, o livro Hiena, Minha Revolta Não se Vende. Na mesma noite tive o prazer de conhecer o próprio Hiena, que tem uma história incrível de vida.
       Abaixo a sinopse que recebi do livro:
      "A obra conta a história de Ediberto Bernardo dos Santos, um negro pobre que saiu de Ilhéus, na Bahia, com 19 anos para ser operário em SãoPaulo. Depois de uma rápida experiência como metalúrgico no ABC paulista em 1979, bem no auge das lutas sindicais, foi morar em Jacareí. Lá, com apenas 20 anos de idade, passou a viver com Luisa - branca, 10 anos mais velha, viúva, doente e mãe de cinco filhos - numa casa sem luz nem água encanada.  
       Em 1984, quando era operário da General Motors de S. José dos Campos, participou duma greve de ocupação da fábrica por uma semana que marcou o início de uma carreira de lutas e envolvimentos políticos e sociais que nunca mais parou.
        Sempre muito magro, um metro e oitenta e três de altura, cabelo à moda black, amante da festa, Hiena conseguia manter plantões de enfrentamentos com a polícia manhã, tarde e noite, ao mesmo tempo em que organizava e presidia os movimentos dos usuários de transportes ou dos sem teto, além de ser dirigente do PT e da CUT. 
     A perda de influência no movimento sindical que lhe dava sustentação, aliada a algumas decepções de natureza políticas o levam ao desespero e, concomitante, a disponibilizar a sua testa para receber o carimbo que a sociedade fazia muito desejava lhe colocar, o de bandido; Ediberto se mete num assalto e vai parar na cadeia. 
        Começa aí um novo capítulo dessa história, agora com o sociólogo Hiena, que sempre fez sociologia de campo com o próprio corpo, experimentando durante 7 anos como é viver nos presídios paulistas nos tempos atuais. Hiena já estava dentro do Sistema quando o PCC foi criado e com ele conviveu durante boa quantidade de anos.
      Livre da cadeia em 98, Ediberto não consegue se livrar do carimbo de ex-presidiário. Depois de tentar por 5 anos continuar vivendo em São Paulo, acaba sendo forçado a viver com a mãe - figura também marcante em sua vida - em Ilhéus, chegando lá bastante abalado mentalmente. Decorridos outros 5 anos, é chamado de volta a São Paulo, para tomar ciência da anistia política concedida pelo Ministério da Justiça aos 33 da GM, que foram perseguidos em função de uma greve ocorrida naquela empresa em 1985, da qual ele tinha sido um dos dirigentes. 
       Hiena quer falar, ir para o debate, fazer a revisão da sua história, que não é somente dele e, como sempre, de peito aberto, sem receber nenhuma isenção prévia, mas também sem fazer concessões a nada e nem a ninguém. Para que? Para servir de lição para a juventude excluída, com quem quer passar a trabalhar, e para continuar mudando o país. É pouco?"

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Ervas daninhas.




VOTE TIRIRICA.
PIOR QUE ESTÁ NÃO FICA!

              Com um slogam no mínimo sarcástico o comediante Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca - cujo apelido significa, literalmente, erva daninha - está nas ruas paulistanas fazendo campanha. 
          O pior é que ele vai levar sua vaguinha no congresso. E, como tem muitos outros tiriricas por aí disputando votos, a situação pode ficar muito pior, sim senhor! 
           Isto porque, pra fazer sua base o futuro governo vai ter que continuar usando a linguagem dos favores, já que essa gente não tem formação cultural, ideológica ou política que lhes permita um comprometimento com a ética parlamentar. 
           Mas o povão escolhe como seus representantes aqueles em que se reconhece. E, não tem figura que reflita mais o brasileiro médio da periferia das grandes cidades que este camarada.
           Ex-artista mambembe, Francisco Everardo saiu dos cafundós do Nordeste pra fazer carreira em São Paulo. E conseguiu o sucesso em cima duma música de gosto duvidoso, Florentina. A partir daí, se apegou à letras fáceis ou piadas de duplo sentido pra ir mantendo seu público.
           Depois de se envolver com a justiça por conta de um processo de racismo derivado da música Veja os Cabelos Dela, viu sua imagem de palhaço ingênuo e bem intencionado ruir e o sucesso como cantor minguar vertiginosamente. Tiririca chegou a passar necessidades no meio da década de 90 até ser encaixado no elenco de comediantes da emissora do bispo Edir Macedo.
           Portanto, não há o que fazer a não ser lamentar a presença de gente tão despreparada na disputa pelas vagas de legislador. E ficar torcendo para que não haja uma infestação destas ervas daninhas na formação do próximo Congresso.