Ariston Lucena
Um dos raríssimos brasileiros condenados a
pena de morte no Brasil desde a proclamação da república, Ariston Lucena morreu sábado
no anonimato perante a grande imprensa e os livros de História.
no anonimato perante a grande imprensa e os livros de História.
Tremenda
injustiça.
Ariston se envolveu na luta contra a ditadura militar ainda menor de idade. Companheiro de guerrilha do lendário Capitão Carlos Lamarca, aos 19 anos ele escapou, com mais seis combatentes, dum cerco de 5 mil soldados montado no Vale do Ribeira, em São Paulo, que durou quarenta dias.
No pé deste post detalhes sobre a façanha que abalou a moral dos milicos à época.
Preso e torturado barbaramente pela equipe do Coronel Erasmo Dias, Ariston acabou condenado a morte, pena comutada depois a prisão perpétua. Ele cumpriu dez anos de reclusão até ser solto por força da anistia.
Ariston Oliveira Lucena era filho de uma família de guerreiros. Seus pais - Raimundo Lucena e Damaris Lucena - foram militantes da
Vanguarda Popular Revolucionária.
Embora analfabeto, Raimundo era conhecido como
Doutor por sua inteligência e
perspicácia. Foi assassinado em 1970, na cidade de Atibaia, com um
tiro na cabeça na frente da mulher e de três filhos.
A
mãe, Damaris, foi presa e torturada. Saiu da cadeia na troca pelo cônsul japonês. Morou em Cuba por vários anos e mantém até hoje um fé inabalável no
socialismo.
Ariston morreu
do coração aos 62 anos.
Muito provavelmente, quando a poeira dos Anos
de Chumbo assentar e nossos heróis de
verdade forem reconhecido pelo povo, Ariston virará nome de rua, estátua numa praça, ou feriado.
Hoje, porém, poucos brasileiros sabem quem ele foi ou conhecem os detalhes deste que foi o período mais conturbado da nossa história.
Hoje, porém, poucos brasileiros sabem quem ele foi ou conhecem os detalhes deste que foi o período mais conturbado da nossa história.

De pé, a partir da esquerda Ariston Oliveira Lucena, Gilberto
Luciano Belloque, Paulo Vanucchi, José Genoíno Neto e Manoel Cyrillo. Sentados: Ozeas Duarte, Aton Fon Filho, Reinaldo Morano Filho, Celso Antunes Orta e Hamilton
Pereira
Saiba tudo o que aconteceu durante a ditadura militar numa narrativa ágil e vibrante. Leia Pedro e os Lobos –
Os Anos de Chumbo na trajetória de um guerrilheiro urbano.
www.osanosdechumbo.blogspot.com.br

ABAIXO, DOIS DOS CAPÍTULOS DO LIVRO QUE NARRAM
O CERCO NO VALE DO RIBEIRA
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ABAIXO, DOIS DOS CAPÍTULOS DO LIVRO QUE NARRAM
O CERCO NO VALE DO RIBEIRA
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Fogo cruzado
Era uma noite
muito escura. Dia oito de maio (a lua nova começou no dia cinco).
Aproximadamente
às 21 horas. O combate foi breve, mas feroz. Intenso tiroteio de três minutos.
Dezesseis inimigos renderam-se. Um fugiu.
Carlos
Lamarca em,
Lamarca, O Capitão da Guerrilha.
Faltando sete quilômetros para
chegar à Sete Barras surge, em direção contrária, uma caminhonete C-14 da PM e
um caminhão de transporte de tropas.
O
tiroteio na escuridão será rápido. E, mais uma vez, a superioridade em armamento
e treinamento dos guerrilheiros faz a diferença. Em três minutos de combate
quase todo o destacamento – composto de um tenente, dois sargentos, dois cabos
e onze soldados – estão mortos, feridos ou dominados. Só um dos militares
consegue fugir para o mato.
Informado
de que há uma barreira policial montada a frente, Carlos Lamarca propõe um
acordo com Alberto Mendes Júnior, comandante dos PMs. Ele irá até o bloqueio
providenciar a desobstrução da estrada em troca da libertação de seus subordinados.
Quando
o oficial volta com a garantia de que o caminho está livre, o Capitão cumpre o prometido e libera
todos os policiais. O grupo da VPR segue agora com a C-14 levando apenas
Alberto como garantia de que o acordo fora cumprido.
Com a chuva intensa, a estrada
de terra batida vai ficando intransitável e a perua atola logo à frente. Sem
alternativa, eles são obrigados a continuar o trajeto a pé.
Já bem
próximo da cidade de Sete Barras, ruídos saindo da vegetação de um dos lados da
estrada denunciam a presença de soldados de tocaia. Rapidamente, os homens da
VPR fogem pelo capinzal existente do lado oposto da pista levando o oficial com
eles.
Desviando
da luz dos holofotes que vasculha o mato a partir da rodovia, os companheiros
de Pedro tratam de fugir abrindo caminho entre as densas touceiras de capim.
José Nóbrega, seguindo a frente
no escuro, acaba rolando no barranco que margeia a estrada e se vê obrigado a
ficar imóvel no lamaçal para não ser localizado pelos soldados. Edmauro, ainda
zonzo pelo ferimento na cabeça, fica muito para trás e também se perde do
grupo.
Carlos
Lamarca e seus companheiros ainda estão tentando encontrar os dois extraviados
quando acontece uma grande lambança na estrada.
Acreditando estar diante do
caminhão com os guerrilheiros, um pelotão do Exército que chega a Sete Barras
abre fogo contra um comando da PM que vem em direção contrária. No revide,
começa o intenso tiroteio que vai deixar feridos um tenente-coronel e um
soldado.
O
matraquear das metralhadoras leva Carlos Lamarca e seus companheiros a
acreditar que José Nóbrega e Edmauro foram encurralados e estão sendo mortos. O
Capitão então parte com o grupo e seu
refém para longe dali.
Entretanto, os dois
companheiros de Pedro Lobo na VPR continuarão vagando pela região e só serão presos
dias depois ao tentarem fazer contato com moradores para obter comida.
Tenente condenado
Foi julgado e
condenado por ser um repressor consciente, que odiava a classe operária
– por ter
conduzido à luta seus subordinados que não tinham consciência do que faziam,
iludidos em seus idealismos de jovens, utilizados como instrumento de opressão
contra o seu próprio povo, iludindo os jovens, ensinando-os a amar a farda,
quando deveriam amar o povo – por ter rompido com a palavra empenhada em
presença de seus subordinados – por ter tentado denunciar a nossa posição. A
sentença de morte de um Tribunal Revolucionário deve ser cumprida por
fuzilamento. No entanto, nos encontrávamos próximo ao inimigo, dentro de um
cerco que pode ser executado em virtude
da existência de muitas estradas na região. O tenente Mendes foi condenado a
morrer à coronhadas de fuzil, e assim o foi, sendo depois enterrado.
Comunicado
da VPR sobre a morte a coronhadas do tenente Mendes Júnior.
O entrevero em Sete Barras denunciará às Forças Armadas que Carlos Lamarca e seus
companheiros continuam no Vale do Ribeira. Rapidamente, Exército, Aeronáutica e
Marinha devolvem todo o contingente desmobilizado à região. Começa aqui a
segunda fase da Operação Registro.
Sem
dormir, o Capitão e seu grupo marcham
por dois dias pela mata em busca de uma brecha que lhe permita furar o cerco.
10 de maio. A essa altura,
Alberto Mendes Júnior se tornara um grande estorvo, uma vez que, mesmo estando
sob a permanente mira de uma arma, ele pode resolver dar um grito de alerta a
qualquer momento e as tropas estão por toda parte. Se for solto, fatalmente o
PM vai indicar a exata localização do grupo.
O tenente já havia tentado,
inclusive, se aproveitar de um descuido de Gilberto Faria Lima para tentar
apanhar sua metralhadora. Só não conseguiu porque Ariston percebeu a manobra e o
imobilizou a tempo.
Num
julgamento improvisado, Alberto será condenado à pena capital por não ter
cumprido sua parte no trato na estrada de Sete Barras. Executado a coronhadas
de fuzil, ele será enterrado em uma cova rasa no meio da mata.
Os guerrilheiros ainda caminham
mais 24 horas até descobrir que caíram num cerco tático. Sem saídas, eles resolvem
então acampar embaixo de uma grande pedra no alto de um morro. E ficam ali por
dez dias.
Enquanto os fugitivos observam
de seu esconderijo o movimento da
repressão a sua volta, fuzileiros navais vasculham os afluentes do Ribeira,
soldados do Exército esquadrinham caminhos e trilhas, empórios e sedes de
fazendas são revistadas e aviões da FAB bombardeiam todas as clareiras visíveis
nas encostas de Serra do Mar.
Nos alto-falantes instalados nas
viaturas que passam lá embaixo na estrada, os companheiros de Pedro ouvem:
Elementos da VPR,
apresentem-se na estrada principal com uma bandeira branca.
Venham reunir-se
aos companheiros da base Zanirato e Eremias.
queremos evitar
derramamento de sangue. Não prolonguem o inevitável.
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