quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Emendei!



Caros perseguidores, emendei o feriado e matei a sexta.
Próxima postagem na quarta.
Abração.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Morreu o "Mãe Dinah" da bicharada

Bernd Thissen/AFP

           Paul, o polvo vidente, está morto!
           Escafedeu-se, pra sempre, o Mãe Dinah da bicharada.
           E agora vamos ficar sem saber quem ganha a copa de 2014. Uma pena, uma vez que, tendo antecipadamente o vencedor, não precisaríamos se preocupar em ficar discutindo escalação ou pedindo a cabeça do Mano Menezes. Seria comemorar já a vitória ou ir chorando a derrota.
           Aliás, com a morte do polvo outras questões ficarão em aberto até o desenrolar dos acontecimentos. Não saberemos, por exemplo, coisas importantíssimas como a data da aposentadoria definitiva do apresentador televisivo Silvio Santos, o século em que o Corinthians será, finalmente, campeão da Libertadores ou quais os projetos que o palhaço Tiririca vai apresentar na Câmara dos Deputados.
           Morreu Paul! Perde nossa fauna, ceifada de mais um cefalópode. Perde a humanidade, a partir daqui mergulhada na escuridão das incertezas em relação ao futuro.
           Em respeito a memória do ilustre falecido, peço aos alemães - um povo sabidamente frio e calculista - que deem um fim digno ao cadáver resistindo a tentação de transformá-lo num suculento strogonoff.  
           E faço uma prece ao deus dos polvos: que a alma de Paul tenha uma eternidade tranquila nas águas celestiais. 
           Amem! 

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

             

           Parando pra pensar, que imortalidade que nada. A vida da gente é já longa demais mesmo durando uns setenta, oitenta anos.
           Podia ser como a do gato, do cachorro ou até dum peixe. Nunca da pulga, que é muito breve, ou da tartaruga, longuíssima.
           Doze ou quinze anos basta pra se viver tudo o que é preciso. O resto é perfumaria e a gente passa se ralando com coisas pro futuro e que nunca vai usar.
           Isso é um crime, já que a adolescência demora demais pra chegar. E vai logo embora. 
           Eu mesmo, na ponta do lápis, nessa adolescência – que é quando estava no auge da virilidade - gastei bem umas duas mil horas decorando fórmulas de química, física e matemática que nunca usarei. Podia ter gasto este tempo namorando, teria sido mais produtivo e prazeroso.
           Isto sem dizer das horas trabalhando no escritório duma metalúrgica – dos 15 aos 22 – e mais outros tantos anos como contas a pagar numa multinacional e numa empreiteira. Foi bem uma década me matando numa rotina estúpida, aguentando chefes prepotentes, colegas de trabalho burrocratas, pra enriquecer os patrões, cujos filhos, da minha idade, curtiam a vida na praia.
           Quando ficamos adultos e podíamos parar pra curtir a vida sossegados, a regra diz que temos que nos preparar para a velhice. Como? Estudando mais e trabalhando demais. Já disse Dori Caymi na belíssima letra de Evangelio:

E, um dia quando a vida melhora, 
nossa mocidade onde andará?
           
           O Policarpo, meu gato, por exemplo, não pensa em muita coisa. A ração tá garantida porque eu trabalho pra isso. Se não tiver ração, também, sua preocupação será, pura e simplesmente, a de correr atrás dum ratão bem gordo que lhe aplaque a fome. E isso é fácil numa cidade como São Paulo que tem mais ratazanas que gente. 
            Depois, o bichano só precisa pensar na Clementina, a gata assanhada da vizinha.
            Tá fechado! Na próxima geração quero nascer gato ou cachorro.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Descambou pro campo da galhofa


          Anteontem, José Serra, atingido na cabeça por uma bolinha de papel e/ou por um rolo de fita crepe, se internou num hospital para fazer tomografia computadorizada.
       Se a moda pega, não vai ter médico, hospital ou aparelho de tomografia pra dar conta de tanto paciente. Principalmente a molecada que adora atirar bolinhas de papel no coleguinha da frente ou a moçada chegada numa guerra de travesseiro.  
        Horas depois do "violento atentado", o candidato tucano tava nas ruas esbravejando contra a covardia do PT. 
        O curioso é que na lustrosa careca do ex-governador não havia uma única marquinha da agressão recebida no dia anterior. E ele insiste que o objeto atirado contra sua cabeça devia pesar meio quilo. 
       Isso me lembra aqueles filmes onde o mocinho apanha do bandido, bate, apanha, bate e apanha outra vez numa sequência estonteante socos na cara e tombos espetaculares. Isto, na maioria das vezes em lugares prosaicos como em cima dum trem ou na beira dum abismo.
       No final, o mesmo mocinho - que venceu a refrega, é claro - recebe o beijo da mocinha. E ele está intacto, penteadinho, com o rosto perfeito e sem um amassadinho na roupa.
       Vamos parar de palhaçada seu Serra! 
       Que esse atentado petista contra sua pessoa não passou duma imensa marmelada. 
       E justo o senhor que uma vez, quando eu cobria sua campanha pra governador, me contou que, na infância, teve as amígdalas extraídas sem anestesia e chegou a operar uma apêndicite anestesiado só com clorofórmio. 
        

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Carlos Lamarca e o Crusp

           Participei da reocupação do Crusp no final de 79. O Conjunto Residencial da USP estava fechado para a moradia de estudantes desde que havia sido invadido por tropas do exército - com o apoio de tanques de guerra, inclusive - em 1968.
           E morei lá por cinco anos. Portanto, tenho o maior carinho por aquele espaço que ajudei a reconquistar e hoje serve de residência pra muita gente.
          Registra a História que a operação de guerra montada pelos milicos pra desalojar os estudantes em 68 foi um fracasso. E que com a moçada que estava lá só foram encontradas espingardas de matar passarinho, estilingues, bolinhas de gude e barras de ferro. Além de cartelas e cartelas de pílulas anticoncepcionais, o que indicou para a repressão que a moçada, além de ser contra a ditadura, se dedicava a outro crime grave para a época, o sexo.
           O que as pessoas não sabem é que horas antes da invasão, Carlos Lamarca tinha sido avisado. Por comandar uma unidade do Regimento de Infantaria - que ficava em Osasco, portanto próximo da USP - o capitão teria que estar em alerta para uma possível apoio no caso da batalha ficar renhida demais para as divisões que para lá seguiriam.
           Assim que recebeu a mensagem secreta, Lamarca despachou seu lugar tenente - o sargento Darcy Rodrigues - para o Crusp dar o alerta. E todo o armamento da VPR e de outras organizações que estavam mocosados por lá foram rapidamente retirados, assim como trataram de sumir do mapa os guerrilheiros que moravam naquele alojamento.
            Para quem quiser saber mais sobre esta e outras ações da guerrilha nos Anos de Chumbo, é ler Pedro e os Lobos.
            

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Espera angustiante

             

           Estou esperando a imortalidade. E não é através duma vaga na Academia Brasileira de Letras, não. É a imortalidade física mesmo.
           Trata-se duma espera cruel, uma vez que o tempo voa enquanto a medicina rasteja nesse sentido.
           Quando decodificaram o genoma humano, pensei:
           - Pronto! Tô eterno. Que esses cabras logo logo vão anunciar que chegaram a imortalidade, já que eles têm o esquema todo na mão.
          Qual o que! Já foi uma década pro saco e ainda nada!
          Criança ainda, eu já me imaginava tomando um elixir da juventude qualquer que me deixasse eternamente jovem. Via isso nos gibis, nos livros de aventura e nos filmes. Tinha que ser verdade. E as histórias de Peter Pan e a Terra do Nunca me ajudaram a viajar nesse sentido.
          Mas revirei feiras, casa de ervas e supermercados pra nunca achar o tal frasquinho com o tal líquido maravilhoso.
           No auge da juventude, não me interessei mais por isso. Tinha vida de sobra e a morte, àquela altura, tinha pra mim um outro sentido. Até pensei em pegar em armas para derrubar a ditadura, mesmo sabendo que o risco de sucumbir no processo era imenso. "Você não está indo pruma festa", me avisaram. "Está é indo pruma guerra!" 
          Foi depois dos cinquenta, com a velhice já ameaçando bater a porta, que a questão da eternidade entrou em pauta novamente na minha cachola.
          Afinal, morrer prá que, se não acredito em vida depois da morte?
          Me resta então torcer pros cientistas de plantão - e como não manjo picas de Química ou de Biologia, nem posso dar nenhuma contribuição nesse sentido - avancem o suficiente nesse negócio de células tronco ou de clonagem. 
         Esse é o único jeito de garantir que daqui, no máximo, trinta anos - estarei com oitenta até lá, se não estrebuchar antes - haja a possibilidade de prolongar a minha vida uns trinta ou quarenta anos.
          Daí, vou ganhando tempo, já que novos avanços devem prolongar esse prolongamento e, assim, successivamente, até a definitiva descoberta da imortalidade.
          Quem de vocês, caros perseguidores, também tá nessa?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Revolução fantástica




        Finalmente as empresas de tecnologia acertaram a mão, e o iPad deve significar a maior revolução na forma de se ler livros e textos desde os idos de 1400, quando um meu chará - o alemãoaJohann Gutemberg - inventou a impressão tipográfica.
        Ainda em 1985, quando trabalhava eu na nascente Folha Informática - o caderno de tecnologia da Bolha de S. Paulo - já se previa que uma estrovenga dessa fosse ser criada. E a gente que estava ali, vivendo os avanços tecnológicos no dia-a-dia, achava que seria coisa de cinco ou seis anos.
        Erramos por mais de duas décadas.  
        Pois bem! Outro dia tive contato com o tal do Ipad e fiquei assustado. Finalmente, depois de dezenas de tentativas frustradas ao longo destes 25 anos, chegou-se a um formato adequado. O treco realmente funciona. E com o iPad se tem, mesmo, a impressão de estar lendo um livro no papel, e com centenas de vantagens.
       O bichinho é levíssimo e super prático de carregar.
       Se conecta a internet, o que torna suas possibilidades de leitura praticamente infinitas. É, assim, como se ir para as férias numa praia deserta  carregando, praticamente, uma biblioteca inteira debaixo do braço.
       É muito prático, porque, ao toque do dedo na tela, as páginas fluem como se você estivesse folheando um livro impresso. E vai por aí: 
        Não suja - se sujar, lava-se, que o dito cujo é de plástico - é fininho e tem o formato dum livro médio, o que ocupa pouco espaço. Sem contar que o iPad tem todas as funções dum microcomputador comum. 
       Conclusão: o livro impresso está, agora sim, com os dias contados. E o processo deve ser muito rápido. 
        Isso vai poupar milhões de árvores, falir algumas fábricas e revendas de papel, fechar centenas de gráficas, e causar desemprego. Sem falar na pirataria dos títulos que deve se tornar endêmica, como acontece hoje com os CDs.
        Mas é o caminho, já que vai derrubar - e muito - o preço dos livros para o leitor.  
        Enfim, a praticidade e a comodidade do iPad são imensas e incontestáveis.
        Viva a modernidade!
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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A normatização da trepada



        Não sou nenhuma ortoridade em termos de sexo. Aliás, sou até um fracasso no assunto, mas não dá pra aguentar a normatização duma coisa que "não tem governo e nem nunca terá", como diz a música de Chico Buarque.
        Pois então! Ontem a noite, no Programa do Jô, Maurício Sita foi falar sobre seu livro: Como levar um homem à loucura na cama.
        A partir duma pesquisa feita com uma penca de machos, o autor chega a uma série de dicas de o que funciona realmente numa transa a dois, homem e  mulher, necessariamente. As bichas ficaram de fora do estudo.
        Tudo bem. Tem coisas que eu acho meio padrão na cama - ou no sofá, no carro, na praia, no meio do mato - e até que podem ser consideradas fundamentais.
         Mas o sexo é apenas uma grande brincadeira entre duas pessoas que se gostam. Fora disso, não tem regra ou dica que funcione direito.
         Tem mulher que gosta de levar umas palmadas, tem mulher que não se permite ao sexo anal, tem mulher que... E tem homem que não gosta que toquem nos seus mamilos - como eu - mas o autor jura que esse tipo de carinho é fundamental para o prazer.
         O cara chega ao cúmulo de dizer que sem um bom "boquete" - o termo é dele - o sexo não pode ser considerado completo.
         Como não pode, cara pálida?
         Tem mulher que não gosta de fazer a tal da felação e nem por isso o sexo com ela deixa de ser perfeito.
         Não li o livro. Também não pretendo lê-lo, porque acho que no sexo tudo varia de casal pra casal, de pessoa pra pessoa, do estágio da relação, do tempo de convivência, da personalidade de cada um e das fantasias de cada um. Depende, muitas vezes, do universo cultural onde se está incluído. E manual nenhum conseguirá padronizar isso.
         A obra deve vender muito? Deve, já que a esmagadora maioria dos casamentos tendem à rotina e as pessoas ficam tentando salvar o barco por não se tocarem que as relações acabam com o tempo.
          Mas que transar com um livrinho na mão, com uma cola de prova de química ou matemática, só vai piorar a brochada.



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Camaleões

       É impressionante como Dilma e Serra vão assumindo um discurso cada vez mais conservador neste segundo turno. Em busca de eleitores desgarrados, mais um pouco e os dois estarão pregando o apedrejamento em praça pública de ateus, mulheres infiéis, mães solteiras e da bicharada em geral.
          Ao eleitor que votou na Dilma no primeiro turno, por exemplo, fica a dúvida: a que ponto ela vai se comprometer com as questões defendidas pela igreja mais reacionária e pelos moralistas?
       E como será o governo da futura presidenta - se ela conseguir chegar ao poder, é claro - depois dessa guinada conservadora?
       O Serra, coitado, se eleito, já vai penar pra fazer maioria, uma vez que a bancada do PT na Câmara e no Senado cresceu muito. E com tantas promessas  pra agradar os reaças de plantão, vai levar chumbo grosso dos movimentos mais avançados da sociedade.
       Tá na hora dos dois candidatos fazerem uma espécie de pacto e pararem, de vez, com esse negócio de disputar quem é o mais carola. Se não, do jeito que a coisa vai, Dilma e Serra vão se credenciar é pra vaga de bispo na Igreja Universal do Reino de Deus ou de cardeal lá no Vaticano.
       Né não? 

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Um enigma chamado Onofre Pinto


           Pesquisando a fundo a história dos movimentos guerrilheiros que enfernizaram os militares durante o regime pós-64 para o livro Pedro e os Lobos, me deparei com uma figura assaz enigmática: a do ex-sargento Onofre Pinto.
       E o mistério maior que cerca a vida de um dos fundadores da Vanguarda Popular Revolucionária é a sua morte. A versão em curso diz que Onofre e outros militantes da esquerda armada tentavam entrar no Brasil a foram mortos na região de Medianeira, no Paraná, em julho de 1974.
       No livro Autópsia do Medo, o jornalista Persival de Souza descreve em minúcias a morte do líder da VPR:


Os corpos?
Sumiço em estilo da fronteira. 
Nada de rituais. Nada de simulações. Nada de laudos. Nada de pistas. 
O próprio grupo executor escolheu o lugar, na linha da fronteira, para cavar os buracos e jogar dentro os corpos, cobrindo-os com terra novamente. 
Fleury sorriu, satisfeito, e pisou, com o bico do sapato bem engraxado,
a terra fofa da cova onde Onofre desaparecia para sempre. 
Contemplou por alguns minutos aquele lugar, aquela situação, aquela circunstância que, se fosse feita a vontade do finado, seria inversa – exatamente a dele. 
Estava justificado, pois.

           Já o também jornalista Aloísio Palmar em Onde Vocês Enterraram Nossos Mortos narra assim a execução do ex-sargento:





Onofre Pinto morreu com um tiro na cabeça. Seu ventre foi cortado e entre suas tripas colocada uma caixa de câmbio do jipe que até então estava abandonada num canto da casa (...). 
Seu corpo foi posto na Rural Willys e levado para fora de Foz do Iguaçu.
No meio da noite, os militares subiram para a antiga estrada de acesso à Guaíra
e antes de chegarem à Santa Helena   jogaram o corpo nas águas do Rio São Francisco Falso. 
Seis anos depois a região foi inundada para formar o lago de Itaipu.

         Como pode? Duas versões extremamente detalhadas para a morte de alguém cujo cadáver nunca foi encontrado. E existe ainda no arquivo do extinto Dops paulista um telegrama datado de 10 de julho de 74 onde o Exército informa àquele órgão que Onofre estaria entrando no Brasil pelo Uruguai. Ora, como a emboscada ao líder guerrilheiro poderia estar sendo tramada na fronteira do Brasil com o Paraguai e a Argentina se ele rumara para o Rio Grande do Sul, via Uruguai, a, pelo menos, mil quilômetros dali.

      


      Na minha opinião, Onofre sequer morreu naquele ano e local. E, enquanto não for encontrado seu restos mortais - se é que eles existem - continuo a procura de dados mais concretos sobre o que aconteceu com o compadre de Pedro Lobo depois que eles se despediram no aeroporto Argentino, no episódio do exílio do personagem principal do meu livro.  

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Espaço Resistente

     pinacoteca.jpg       
          O prédio de tijolo aparente do Largo General Osório, no Bairro da Luz, aqui na capital, que serviu de sede ao antigo Departamento de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo - Deops, de 1940 a 1983,  agora virou o Memorial da Resistência da Pinacoteca. 
         Transformado numa espécie de museu, o prédio onde os presos políticos eram encarcerados e, muitas vezes, torturados até a morte, abriga hoje documentos, vídeos e um espaço onde acontecem eventos ligados a memória da resistência e da repressão política.
         Ali eu lancei o livro Pedro e os Lobos em dezembro último. E foi emocionante para o Pedro Lobo, exatos quarenta anos depois, voltar ao lugar onde o barbarizam durante a ditadura. 
         As celas foram preservadas e podem ser visitadas. E lá de dentro é possível ouvir o depoimento gravado de vários dos presos que foram torturados naquele cárcere.
         Vale a pena fazer um visita.
         A propósito, amanhã, a partir das 14 horas, haverá uma homenagem a Che Guevara e ao povo cubano que acolheu os exilados da nossa ditadura durante os anos setenta.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Paulo Vitale
Circle of Animals da Bienal de Artes de São Paulo - 2010

              A constante evolução de conceitos nas artes plásticas levou, na minha opinião, os artistas a uma sinuca de bico, a jogada do bilhar onde não há saídas.
          Como existem trocentas correntes apontando vertentes, uma simples visita à Bienal nos remete a uma discussão primária: afinal, o que é e o que não é arte?
          É essa, sem dúvida, a baliza que falta para que se possa valorizar certos trabalhos e descartar outros que só servem para povoar exposições de entulho.
          O arqueólogo Ulpiano Menezes, meu professor na FLCH-USP, num curso sobre a história da arte, ainda na década de oitenta, deu uma definição que, ao meu ver, pode ser um ponto de partida pra essa questão.
          Para ele, o objeto artístico deve ser livre de qualquer outra função que não a de expressar o sentimento do artista. E hoje, o que mais se vê são obras feitas pra agradar ou chocar o público, pra atender o mercado ou pra servir de vertente a outros "artistas". Pouca coisa , entretanto, nasce com a função de expressar o universo íntimo do autor, suas reflexões sobre o mundo ou sua percepção do universo que o cerca.
          Se as bienais da vida se restringissem a obras que tivessem, exclusivamente, uma função artística, acho que esse experimentalismo exagerado e a vontade de chocar a qualquer custo daria lugar a trabalhos mais consistentes e, portanto, mais perenes.
           
           

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Um velho realejo nas ruas de Sampa

realejo

         Semana passada caminhava eu pela avenida Sapopemba, aqui na Zona Leste de São Paulo, quando vi surgir na minha frente um velho realejo.
         Como se saído duma máquina do tempo, o homem rodava a manivelinha da estrovenga e surgia uma valsa encantadora, como já cantava Chico Buraque nos idos dos anos setenta. E, naquela época, o realejo já era uma coisa em extinção. Tanto que ele diz: 
         
         Estou vendendo um realejo
         quem vai levar 
         quem vai levar (...)
         Ninguém quer mais hoje em dia
         acreditar num realejo
         Sua sorte, seu desejo,
         ninguém mais veio tirar 

         Dei uma nota pro camarada e, no automático, o papagaio percorreu a gaveta lotada de papeizinhos já meio carcomidos pelo tempo. Com o bico ligeiro de tanto treino, o bicho apanhou então um dos bilhetes e me estendeu.
         No texto datilografado, previsões genéricas de fortuna e felicidades futuras.
         O impressionante é que, em pleno século 21, na era da informação tecnológica, neguinho ainda ganhe dinheiro oferecendo a sorte a varejo nas ruas duma das maiores metrópoles do mundo.
         Ao ir embora, ainda olhei pra trás pra me assegurar de que não estava saindo duma espécie de brecha no tempo.
         Mas não. O cara continuava lá, girando a manivelinha enquanto, agora o papagaio atendia uma moça com cara de casadoura.
         Incrível!!!!!!!!!!!!!!!!!!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Dilma e o aborto


             A questão do aborto parece ter prejudicado a vitória da Dilma no primeiro turno. E talvez paire como um fantasma pelas discussões no segundo.
         É muita hipocresia das igrejas. A questão da escolha de ter ou não um rebento tem que ser de competência exclusiva da mulher. 
         Uma célula se dividindo não tem nome, sobrenome, laços sociais ou consciência de nada. Pode ser até uma vida, mas ainda não é humana. Para se "ser humano" é preciso a consciência do universo que nos cerca. 
         Deixar uma criança dessas vir ao mundo é colocar mais um ser indesejado na face da Terra.
         Aí surgirão as consequências. E Igreja nenhuma - nem padres nem pastores - se propõem a criar os futuros delinquentes. Simplesmente, uma parte deles acabará abandonados a própria sorte nas ruas das grandes cidades.
         Alguém já disse que os conservadores são contra o aborto, mas depois defendem a pena de morte para eliminar os desajustados sociais que, fatalmente, surgem desta multidão de crianças rejeitadas pelos pais e pela sociedade.
         Aí sim, o coitado, já dotado de nome, sentimentos e histórico de vida, vai acabar morto pela polícia. E sem qualquer culpa da sociedade. Afinal, ele é uma ameaça a todos.
         Como a Igreja ainda tem uma influência muito forte no grosso da população, principalmente nas fatias mais atrasadas dela, será preciso o futuro presidente, ou presidenta, ter a coragem de modificar a lei do aborto por decreto. 
          É esta a única forma de evitar que milhares de mulheres morram anualmente em clinicas clandestinas e que uma massa de rejeitados migrem para o crime travando uma guerra desigual contra as polícia.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Uma pena



      Incrível!
      Não deu pra Dilma no primeiro. Não deu pro Mercadante ir pro segundo.
      No primeiro caso, os escândalos, mais uma vez, solaparam a imagem dum candidato do PT.
      Mercadante encostou no Serra, mas perdeu por meros 0,6 %.
      Uma pena.
      Dilma deve ganhar no segundo. Impossível que todos os eleitores de Marina, que foi, até pouco, petista, descarreguem seus votos no Serra.
      Dos meus candidatos, Adriano Diogo se elegeu pra estadual. Mas o sargento Darcy Rodrigues - o lugar-tenente de Carlos Lamarca - não chegou à Câmara Federa.
      Se eleita, a Dilma governará com mais tranquilidade que o Lula, uma vez que o Partido fez a maior bancada federal e a base aliada estará apenas a um senador da maioria.
      Nos estados a coisa ficou meio que equilibrada, com o PT fazendo o Rio Grande do Sul, a Bahia, Sergipe e o Acre. O PSDB garantiu Minas, São Paulo o Paraná e Tocantins.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Declaração de voto

 Crédito: www.hart-brasilientexte.de
Eu, Pedro Lobo e Darcy Rodrigues
        Em primeiro lugar, não voto no Netinho, do PC do B, para o senado, por achá-lo demagogo demais e despreparado politicamente para cargo tão importante. O cara ainda tem alguns episódios de agressão no seu currículo pessoal - na mulher e no Vesgo, do Pânico na TV - que mostram um total despreparo emocional e um certo mau-caratismo.
        Para o senado vou de Marta e só. O outro voto é em branco, sem trocadilhos.
        Pra presidência, Dilma na cabeça.
        Deputado federal, voto em meu amigo e grande companheiro de luta de Pedro Lobo na Vanguarda Armada Revolucionária, Darcy Rodrigues, do PDT. Foi ele o responsável direto pela entrada do capitão Carlos Lamarca na guerrilha e foi um dos mais valentes combatentes na luta contra a ditadura militar. 
Preso no Vale do Ribeira no início dos anos setenta, ele foi barbaramente torturado pela polícia política e pelos militares. 
        Por isso, pela primeira vez em trinta anos, cravarei um voto fora do PT.
        Deputado estadual, Adriano Diogo 13.222. Geólogo, ele foi ex-combatente da Ação Libertadora Nacional nos anos setenta e também sofreu nas câmaras de tortura.
        No PT desde a primeira hora, Adriano é geólogo, foi vereador por quatro mandatos, secretário do Verde e do Meio Ambiente na gestão Marta Suplicy e está no seu segundo mandato como deputado estadual aqui em São Paulo.