quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Espera angustiante

             

           Estou esperando a imortalidade. E não é através duma vaga na Academia Brasileira de Letras, não. É a imortalidade física mesmo.
           Trata-se duma espera cruel, uma vez que o tempo voa enquanto a medicina rasteja nesse sentido.
           Quando decodificaram o genoma humano, pensei:
           - Pronto! Tô eterno. Que esses cabras logo logo vão anunciar que chegaram a imortalidade, já que eles têm o esquema todo na mão.
          Qual o que! Já foi uma década pro saco e ainda nada!
          Criança ainda, eu já me imaginava tomando um elixir da juventude qualquer que me deixasse eternamente jovem. Via isso nos gibis, nos livros de aventura e nos filmes. Tinha que ser verdade. E as histórias de Peter Pan e a Terra do Nunca me ajudaram a viajar nesse sentido.
          Mas revirei feiras, casa de ervas e supermercados pra nunca achar o tal frasquinho com o tal líquido maravilhoso.
           No auge da juventude, não me interessei mais por isso. Tinha vida de sobra e a morte, àquela altura, tinha pra mim um outro sentido. Até pensei em pegar em armas para derrubar a ditadura, mesmo sabendo que o risco de sucumbir no processo era imenso. "Você não está indo pruma festa", me avisaram. "Está é indo pruma guerra!" 
          Foi depois dos cinquenta, com a velhice já ameaçando bater a porta, que a questão da eternidade entrou em pauta novamente na minha cachola.
          Afinal, morrer prá que, se não acredito em vida depois da morte?
          Me resta então torcer pros cientistas de plantão - e como não manjo picas de Química ou de Biologia, nem posso dar nenhuma contribuição nesse sentido - avancem o suficiente nesse negócio de células tronco ou de clonagem. 
         Esse é o único jeito de garantir que daqui, no máximo, trinta anos - estarei com oitenta até lá, se não estrebuchar antes - haja a possibilidade de prolongar a minha vida uns trinta ou quarenta anos.
          Daí, vou ganhando tempo, já que novos avanços devem prolongar esse prolongamento e, assim, successivamente, até a definitiva descoberta da imortalidade.
          Quem de vocês, caros perseguidores, também tá nessa?

2 comentários:

  1. João Grandão.
    A imortalidade no sentido estrito deve ser uma grande chatisse.
    Não me importo de morrer antes dos 200 anos, tendo aproveitado bem a vida até o fim.
    Enquanto isso, ainda há a possibilidade da Academia Brasileira de Letras...

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  2. Chato é morrer, caro Wolff. E eu odeio o modelo daquele fardão.
    Portanto, você que é biólogo trate de se esmerar aí na USP pra dar uma força neste sentido.
    Quem sabe a criação dum elixir da eterna juventude não passe pelo desenvolvimento dum micro organismo novo.
    E é bom trabalhar rápido, porque a cada segundo que passa, me sinto mais envelhecido.

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