domingo, 18 de julho de 2010

Um absurdo nas relações sociais durante a escravidão.

Digo eu Isidoro Gurgel Mascarenhas, que entre os mais bens que possuo [...] sou senhor e possuidor de uma escrava de nome Ana [...] [recebida na herança] de meu Pai, Lúcio Gurgel Mascarenhas [...] e como a referida escrava é minha Mãe, verificando-se a minha maioridade hoje, pelo casamento de ontem, por isso achando–me com direito, concedo à referida minha Mãe plena liberdade a qual concedo de todo o meu coração”

No 2º volume da coletânea História da Vida Privada no Brasil, Robert W. Slenes usa o documento acima para mostrar um dos absurdos gerados pela relação senhor/escravo no Império.

E só em 1869, ao se tornar maior de idade, o filho bastardo do proprietário de terras tem a possibilidade de se livrar da condição de dono da própria mãe.
Temos aqui uma “família” que durante 19 anos foi formada por Lúcio (senhor de escravos em Campinas) Isidoro e Ana que, apesar de ser mãe do rapaz, é mantida na condição de mera mercadoria do estoque dos Gurgel Mascarenhas.  
E, como tal, pode ser vendida ou alugada a qualquer momento por seus senhores.

A luz do nosso tempo fica difícil imaginar a angústia dum filho que espera por quase vinte anos a chance de libertar a mãe da condição de sua escrava.

E a força da grana representada pela posse de cativos é tamanha que, mesmo sendo uma das vitimas desta nefasta  estrutura, Lúcio continuará mantendo seu vistoso plantel de escravos. 

Quando da sua morte, em 1861, ele ainda terá  23 deles.   

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